Elasticidade na vida e nos negócios
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Em busca de novos modelos de negócios que partem de pequenas idéias e grandes sonhos
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A ITT Activesports and Bodywear andou visitando o comércio têxtil para compreender melhor quem são os novos empresários que surgem com talento e coragem, na briga por um lugar no mercado. Para que tanto novos empreendedores da área se arrisquem sem medo, quanto consumidores identifiquem melhor como se constrói a marca que escolhe vestir, garimpamos histórias de sucesso, como a de Tatiana La Pastina, criadora da grife e administradora da confecção “Mulher Elástica” que tem origem no Sul do país, mas já conquistou loja própria em São Paulo e é
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revendida em mais de 50 lojas multimarcas por todo o país.
ITT A&B: Tatiana, sua marca foi apontada numa pesquisa informal com teenagers como uma das mais “fashion” na linha de fitness e activewear em geral, mas olhando suas araras, percebemos que apesar das cores vibrantes, seu perfil de consumidora não é estritamente adolescente...
Tatiana La Pastina: Não. Engraçado, o púbico teen é maior no Sul. O perfil da nossa consumidora é o de quem gosta de vestir-se bem em qualquer ocasião. As meninas gostam, porque hoje, com esta loja em São Paulo, na Galeria Ouro Fino, estamos mais perto de quem busca moda alternativa.
Mas a maior faixa é a de mulheres dos 22 aos 35 anos, classes A e B. Muita gente compra leggings, blusas e tops que a gente produz para sair ou só pra investir nessa imagem de mulher ativa, mas não é raro ver mãe e filha comprando juntas. O conceito do que fazemos é voltado para a mulher que quer uma roupa que lhe caia bem, seja pra fazer exercícios, seja pra sair por aí, com o seu corpo valorizado. Fazemos moda voltada para a mulher active e não uniformes esportivos pra quem quer só malhar. Por isso, as multimarcas, em geral, onde somos encontrados são as que vendem Cavalera, Osklen, Colcci e não as de materiais esportivos. A gente acredita estar fazendo uma moda esportiva, sim, mas com um corte diferente que permite ser usada no dia-a-dia tranqüilamente e com charme, porque são mais elaboradas.
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ITT A&B: Então vamos partir do começo. De onde veio a idéia da “Mulher Elástica” focando a moda active, feminina, e com essa pegada tão moderna de mundo fashion?
Tatiana: Bom, a idéia da marca em si vem da minha época universitária, eu fazia desenho industrial, em Londrina, interior do Paraná (eu sou de lá) e no meu trabalho final de conclusão de curso, precisava montar em termos de programação visual um logo e todo um projeto de desenvolvimento de logomarca e suas aplicações. Eu sempre gostei de moda e minha mãe tinha uma pequena malharia, em moldes bem modestos mesmo – as pessoas encomendavam a roupa que queriam e ela fazia. Então pensei em unir um pouco a experiência dela com vestuário e a marca que eu devia apresentar. Só que com uma visão mais profissional de produção em série. Fui a campo e pesquisei no mercado um setor que fosse mais carente de inovação e percebi que as roupas para ginástica eram um foco bem legal. O momento era ideal porque foi mais ou menos em 2000 quando as indústrias investiram pesado em tecnologia aplicada aos
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tecidos de performance. Eu percebi que dava pra criar coisas ao mesmo tempo interessantes em termos de estética de moda, e com o plus de ser uma roupa específica para o exercício. A carência do mercado eu também já conhecia como consumidora e esportista, sabe. Fiz ginástica olímpica dos 7 aos 14 anos e quando ia comprar roupas para o esporte nada me satisfazia muito, fosse na modelagem ou nos padrões. Daí foi que decidi criar uma marca esportiva e fiz meu TCC todo em torno disso.
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Tatiana à frente da loja em São Paulo
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Loja sede em Londrina
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ITT A&B: Mas até aí era apenas tese de faculdade. O nome foi sempre esse? “Mulher Elástica”? Porquê? E como foi que a tese universitária virou sonho de negócio ou profissão?
Tatiana: O nome nasceu dessa época mesmo, num brainstorming com colegas da faculdade. Eu levei um monte de panos, tudo tinha muito elastano, polyamida, eles olhavam tudo, esticavam os tecidos, falávamos da mulher moderna que tem que alcançar tudo, como se tivesse um corpo lindo e de borracha correndo de casa, para o trabalho, para os filhos, para o supermercado, eficiente e meio heroína. E surgiu do nada a Mulher Elástica, como se fosse mesmo uma personagem, um alter-ego da mulher contemporânea. Fiz pesquisa de rua sobre a aceitação do nome. Entrevistei 100 mulheres, 99 disseram que usariam uma roupa com essa marca. Aí ficou decidido. O mais curioso é que a tal única que disse que NÃO usaria, hoje é minha cliente. E também curioso é que anos depois no filme “Os Incríveis” a mãe da família de super-heróis apareceu justo com o nome da marca que já estava então estruturada e registrada assim. Já o pulo do trabalho universitário para o desejo de uma marca real, foi que ao criar todo o conceito da marca, fiz tanta pesquisa e me envolvi tanto com a idéia, que daí quis levar adiante, porque acreditava mesmo na viabilidade do projeto como negócio. Conversei com a minha mãe, que já tinha essa pequena estrutura da malharia e resolvemos chamar o Sebrae para nos auxiliar a enxergar melhor como produzir em série esse produto que eu tinha na minha cabeça, mas queria tornar real: uma roupa que a mulher usasse dentro e fora da academia, com corte moderno, que valorizasse o corpo e tivesse um requinte de moda.
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ITT A&B: E então era necessário investimento. Até nisso o Sebrae ajudou? Ou você teve que correr atrás?
Tatiana: Olha, a assessoria do Sebrae foi maravilhosa em tudo. No sentido principalmente de remodelar a pequena fábrica da minha mãe, posicionar as máquinas, cortar e produzir em série, e até no estudo de mercado.
Começamos a produzir com 700 peças, que tentávamos vender em lojas multimarcas, sem muito sucesso. Com a consultoria deles, passamos para 3 mil peças e foi quando meu pai resolveu investir, para
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que abríssemos uma loja própria. Foi tudo na base da cara e da coragem e muita disposição. Eu desenhei toda a loja, da planta aos móveis, vitrine e decoração, pois não tínhamos nada extra pra chamar um arquiteto. Desenhei os modelos das roupas, tudo isso em menos de um ano depois de eu terminar a faculdade. Em julho de 2001 a loja foi inaugurada em Londrina. Loja pequena em cidade relativamente pequena (600 mil habitantes), vendendo um produto ousado e diferente, que podia ir bem ou não. Arrisquei e deu certo, o fluxo de clientes foi crescendo e virou mania na cidade. Esta primeira loja eu tenho até hoje e é o meu xodó. Mas a demanda aumentou rápido e lá fui eu procurar o Sebrae de novo pra saber como crescer, de forma organizada.
ITT A&B: Essa consultoria em várias fases foi paga? É cara ou é uma coisa acessível a qualquer fabricante ou lojista iniciante?
Tatiana: Eu acho que para o custo benefício é quase de graça. Tivemos consultor de produção na fábrica, de custos pra gerenciar melhor, de atacado para bolar estratégias de mercado e acho que cobram 20% do valor que seria ter contratado profissionais de cada área. Fora que eles acompanham de perto a sua evolução. E no meu caso ainda tive a sorte de procurálos na hora certa, logo no começo. Os técnicos de lá dizem que o mal é que, quase sempre, a consultoria só é buscada quando o negócio já está estabelecido e vai mal. Em 2002 pulamos para a produção de 5 mil peças/mês, sempre com a ajuda deles. Abrimos uma segunda loja e começamos aí a ser “procurados” pelas multimarcas, o que é mais fácil depois de se ter um nome no mercado.
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ITT A&B: Agora... Estamos até aqui falando da lojista que acreditou e deu certo, buscou caminhos e ajuda e investimento para o negócio em s, que começou arriscando numa lojinha e hoje tem uma fábrica, uma marca própria, duas lojas em Londrina, uma em São Paulo e o interesse das butiques.
Mas e o lado do estilo, da criação? O seu desenho era industrial, técnico. Só o feeling para a moda bastou para você se tornar também a estilista? Ou essa “elasticidade” teve um empurrãozinho?
Tatiana: Nada de ajuda externa... Também tive que correr atrás de uma “formação” melhor. Ao desenhar os primeiros modelos que eram calças tipo legging, bailarina, corsário, percebi que precisava me informar melhor sobre moda, tendência e corte-e-costura para acertar na modelagem. O que eu tinha era o feeling para os detalhes, o conceito... Então fui fazer pós-graduação em Moda na Universidade Estadual de Londrina, para enriquecer minhas pesquisas e entender melhor como criar o que eu mesmo esperava de um produto especial, desenhado para a mulher que quer se sentir bem, na moda, e pronta para uma vida de muito exercício, dentro e fora das academias. Tive professores muito bons, conceituados e que me fi zeram enxergar como conferir uma personalidade própria à roupa que eu queria criar. Só assim consegui fazer minha primeira coleção completa, com variedade de peças e um foco mais claro. Antes disso era só um apanhado de peças experimentais. Essa primeira coleção veio só em março de 2002. E aí eu já tinha segurança em relação a tudo que criava, mas continuei sempre fazendo pesquisas e checando a reação do nosso publico consumidor, viajando pra buscar novidades.
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ITT A&B: Esta nova coleção verão 2008 tem uma cara de ter tido apoio de marketing e assessoria para divulgação, um cuidado com catálogo... Foram grandes os passos de lá para cá?
Tatiana: Ah, claro! Depois que eu vim para São Paulo (vim mais para morar com meu marido, que é daqui, do que pra fixar negócio aqui também, mas acabou dando certo), eu percebi que precisava deste apoio de assessoria pra criar uma identificação nacional do público com a marca. E foi muito bom. Crescemos bastante. Depois da segunda loja em Londrina (numa casa maior que tem até um Café anexo), em 2003, este ponto em São Paulo, numa galeria conhecida na capital por “criar” moda avantguard, foi fundamental. A daqui completa um ano, agora. Hoje produzimos 8 mil peças/mês. A coleção que lançamos neste fim de ano eu batizei de “Newstalgia”. É mais cosmopolita e tem essa idéia de exatamente revigorar o que é nostálgico com ousadia.Tem um apanhado de referências das décadas de 60 a 90 e é divertida, antes de qualquer coisa. O tema não é fechado. Claro que sigo tendências, mas não me prendo a elas.
ITT A&B: Na escolha de tecidos, padronagens, e esse tal avanço tecnológico aplicado, que você mencionou no começo do papo, que está sempre presente nas roupas que desenvolve, você tem um fornecedor só, ou mescla tecelagens na confecção?
Tatiana: Trabalho basicamente com a Petenatti, Santa Constância e Rosset. E misturo texturas e tecidos exatamente para alcançar essa roupa de maior performance, com charme de moda mesmo. O look fica perfeito exatamente no equilíbrio dessa busca. Temos peças em tafetá, por exemplo, que parecem ter tecidos de alta moda, pelo toque e caimento, mas que também têm funções tecnológicas antibacterianas de proteção solar e térmica, indicadas ao esporte.
ITT A&B: Parece que temos aqui uma história de sucesso onde o apoio familiar foi fundamental, não? Mãe-sócia, pai-investidor... O marido também dá uma força nos negócios?
Tatiana: Na área dele sim, ele trabalha com arquitetura e decoração e além de dar toques na montagem de tudo, cuida da apresentação visual dos catálogos. Mas o envolvimento da família toda continua e até aumentou. Minha mãe deixou a malharia pra tocar só a Mulher Elástica. Ela cuida da produção e da fábrica. Meu irmão cuida da parte comercial de atacado, e minha irmã do financeiro. Virou mesmo o negócio da família...
ITT A&B: E daqui para frente? Quais são seus planos de crescimento, mais lojas próprias? Outras capitais, aumento de produção?
Tatiana: Olha, aumentar muito a produção a curto prazo não está nos planos da marca, porque precisamos melhorar o processo de distribuição. Estamos fortes no Sul e Sudeste, mas eu queria ganhar mais espaço em outras regiões. Precisamos abrir mais frentes antes. Loja própria, penso em ter mais uma em São Paulo, em algum shopping que ainda não sei qual. E claro que, quando penso em termos nacionais, em longo prazo, gostaria de ter pelo menos uma loja em cada Capital. Mas para isso precisamos aumentar a estrutura toda do negócio para ter como administrar. O sonho já existe.
ITT A&B: Então já é um bom ponto de partida, já que tudo começou de um sonho elástico que decolou...
Tatiana: É verdade. Mas apesar de toda a coragem e elasticidade dos planos, nos negócios ninguém é super-herói. A gente precisa aprender a ir devagar, sem dar um passo maior que a perna. Não ter medo, mas conhecer os limites.
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