Culto à imagem saudável
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Mais do que cuidar da saúde, o que motiva as pessoas ao esporte é manter a boa aparência |
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No início de 1980, a cultura do corpo eclodiu no mundo e chegou ao Brasil, simbolizada pela aeróbica e embalada pelo esfuziante hit “Get Physical” de Olivia Newton-John.
Muitos pensaram que tal movimento, que gerou uma febre de consumo de produtos ligados à atividade física, fosse um modismo passageiro. Hoje, mais de duas décadas depois do início da geração saúde, o mercado de vestuário esportivo não pára de crescer, movimentando anualmente cerca de US$ 2 bilhões*. Porém, um novo fenômeno é apontado como principal propulsor deste negócio: o culto à aparência. “O consumidor que compra roupa esportiva não necessariamente é um atleta profi ssional ou praticante de esportes, mas alguém que quer ter uma imagem saudável”, atesta o economista João Felipe Sauerbronn, da Escola Brasileira de Educação Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.
Integrante do grupo de estudo de marketing esportivo, que entre 2003 e 2006 realizou uma pesquisa para saber como as pessoas se relacionam com o esporte, Sauerbronn revela um dado surpreendente.
“A preocupação com a saúde não é mais a razão principal que leva as pessoas a praticarem algum tipo de esporte, ficando em terceiro lugar |
A inglesa Olivia Newton-John,
símbolo de saúde dos anos 80
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na lista de motivos. Em primeiro vem o lazer e em segundo a estética”. Segundo ele, a vida estressante das cidades e a tendência, cada vez maior, ao individualismo fazem com que as pessoas busquem o esporte para manter um convívio social. “De uma amostragem de duas mil pessoas entrevistadas, apenas 10% disseram praticar esporte regularmente, ou seja, no mínimo três vezes por semana. Para muitos, as academias funcionam mais como centros de convivência e lazer do que um local exclusivo para exercícios físicos”.
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Look esportivo e tecidos tecnológicos valorizam a estética do século XXI
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Linha desenvolvida com fios da Invista: moda com alto desempenho
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Movimento urbano
Apesar de toda a divulgação do esporte na mídia nacional, a pesquisa da Ebape confirma que os moradores das cidades, principalmente das regiões sul e sudeste, são os que mais praticam atividade física e, consequentemente, consomem produtos esportivos. “No interior e nas cidades do centro, norte e nordeste, a idéia de boa saúde está mais ligada aos hábitos alimentares do que aos exercícios físicos. Observa-se que nesses locais ainda há poucos espaços como ciclovias, academias e equipamentos públicos de ginástica”, diz João Felipe Sauerbronn, que também é presidente da Federação de Hóquei sobre Grama do Estado do Rio de Janeiro. Sua pesquisa mostra que o futebol, a corrida e as lutas marciais são os esportes prediletos dos homens, enquanto fitness, caminhada e vôlei são os preferidos das mulheres.
Um detalhe curioso e que confirma a preocupação feminina com a estética referese à prática da natação. Considerado um dos esportes mais completos, pois além de delinear o corpo também aumenta a resistência pulmonar e melhora a coordenação motora, a natação acaba sendo abandonada pelas mulheres (não atletas) justamente por causa da tonificação dos músculos dorsais.
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*Números
O mercado de vestuário em geral, que abrange roupas de tecidos planos, malhas e meias faturou em 2006 US$ 24,2 bilhões. O segmento esportivo (não inclui tênis nem acessórios) representou aproximadamente 10% deste faturamento.
Fonte: Abravest/IEMI
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Admirável têxtil novo
por Sérgio Beck*
A tecnologia implantada no século XX criou as fibras sintéticas, gerando tecidos que quase não absorvem água (nem peso), que são impermeáveis (quando resinados), e bastante resistentes a rasgos e abrasão. Porém, descobriu se que as coberturas resinadas não “respiram”. Não tendo por onde escapar, o suor acabava umedecendo a roupa por baixo do tecido impermeável. Os laboratórios então inventaram os tratamentos hidro-repelentes, que permitem que o tecido “respire” sem se deixar encharcar pela água da chuva. Foram criadas películas protetoras (membranas
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Tecidos esportivos feitos com a tecnologia Amni
Rhodia
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microporosas) que deixam passar o suor (ainda sob forma de vapor d’água) e ao mesmo tempo repele a entrada de água.
Inventaram também tratamentos químicos que rapidamente conduzem o suor da pele para fora do tecido. Só que nem sempre esta tecnologia funciona como se espera, principalmente sob exercício pesado,quando o suor é intenso. O desempenho dos tratamentos químicos também acaba com o tempo, à medida que o produto vai sendo removido por sucessivas lavagens. A solução foi criar microfibras com filamentos tão finos, que devolvessem ao tecido a sensação de maciez e conforto do algodão. Sem o inconveniente de absorver água, ou de selar a pele debaixo de uma película plástica. Novos processos de texturização e cortes modificados possibilitaram uma geração de fios sintéticos confortáveis e funcionais. Inventou-se a famosa expressão “fibra inteligente”, justificada pelo fato de que estas ajudavam a criar um microclima ao redor do corpo. Muitas vezes a pesquisa em laboratório avança às cegas: uma nova fibra é descoberta, e então são estudadas suas propriedades e encontrado algum comportamento especial para desenvolvimento de vestuário. Foi assim que se introduziu o termo “fibra de performance” para definir têxteis com um comportamento ainda mais sofisticado que o das “fibras inteligentes”. Estas fibras começaram
a ser aplicadas principalmente em malhas, libertando-nos do domínio do algodão. Usadas geralmente em camisetas, não se encharcam com o suor, secam rapidamente e vestem confortavelmente. Hoje, um arsenal de fibras performáticas está à disposição dos atletas e praticantes de esportes. Além do conforto e equilíbrio térmico, muitas destas fibras incorporam atributos como ação bacteriostática, compressão graduada, proteção contra raios UVA-UVB e muito mais.
Sérgio Beck é montanhista e autor do livro “Convite à Aventura”
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Corrida pela boa-forma
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Em busca da roupa ideal, consumidores vão atrás de informações e novidades |
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Estima-se que no Brasil existam quatro milhões de adeptos de corrida de rua, uma das modalidades esportivas mais populares do país. Para atender este segmento, dezenas de marcas esportivas participaram da segunda edição da Running Show 2007, feira anual realizada no mês de agosto, em São Paulo.
Dentre as novidades apresentadas para os consumidores que lotaram o pavilhão da Bienal do Ibirapuera, destaque para a linha de vestuário Lightning Day, da New Balance, feita com finíssimas microfibras de poliéster e poliamida (náilon) que permitem o fluxo rápido e contínuo da umidade da parte interna para a parte externa do tecido, facilitando a evaporação do suor. Os tecidos da linha também contam com tecnologia antimicrobial e proteção contra os raios ultravioleta (UVA/UVB). A Body For Sure lançou, entre outras novidades, uma coleção para a prática do running feita com tecido à base do novo fio Amni Actsystem Fit, que proporciona conforto, melhor equilíbrio térmico, toque agradável e alta compressão.na lista de motivos. Em primeiro vem o lazer e em segundo a estética”. Segundo ele, a vida estressante das cidades e a tendência,cada vez maior, ao individualismo fazem
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Coleção Get Over 2007 lançada
pelas lojas Renner
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com que as pessoas busquem o esporte para manter um convívio social. “De uma amostragem de duas mil pessoas entrevistadas, apenas 10% disseram praticar esporte regularmente, ou seja, no mínimo três vezes por semana. Para muitos, as academias funcionam mais como centros de convivência e lazer do que um local exclusivo para exercícios físicos”.
Outros produtos que chamaram atenção de esportistas e apaixonados por corrida foram os tecidos tecnológicos Bioskin® e Leggeríssimo Pro®, desenvolvidos pela tecelagem Santaconstancia em parceria com as marcas Amni Biotech (Rhodia), Supplex e Lycra® (Invista). O consultor têxtil José Favilla, especialista em tecidos tecnológicos e que atualmente presta consultoria para Santaconstancia, explica com uma frase o que é uma roupa de performance:“É aquela que menos atrapalha o desempenho do usuário que pratica esportes”. Mas então, por que a indústria investe tanto
em novas fibras e tecidos? A resposta está no conceito de fisiologia do vestuário. De acordo com Favilla, conforme a atividade esportiva e o local onde ela é praticada (se aberto ou fechado, se sob temperatura fria ou quente, ar seco ou úmido, etc.) a roupa deve ser pensada de forma a facilitar a interação entre o tecido e o corpo e entre o tecido e ambiente externo. Segundo ele, três fatores devem ser levados em conta quando da elaboração de um tecido voltado para a prática esportiva: isolamento térmico e troca de ar, absorção e transporte de umidade e sensação de conforto na pele.“O meio ambiente interfere na sensação térmica do corpo e, nesse sentido, a roupa pode ser uma aliada do consumidor”.
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Favilla diz que a poliamida tem maior capacidade de absorver o suor do que o poliéster. Geralmente estas duas fibras são as mais utilizadas na confecção de roupas esportivas. Porém, não basta apenas o fio adequado – a construção do tecido e o tipo de máquina em que é produzido também colaboram para o bom resultado. “Se a camiseta de poliamida for feita com uma trama mais aberta, o tecido extrairá o suor do corpo e simultaneamente irá eliminá-lo através dos poros da trama, proporcionando uma sensação de conforto e frescor”, destaca o especialista, acrescentando que nos últimos dez anos, a tecnologia têxtil avançou muito, principalmente com o advento da
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Tecidos tecnológicos estarão brevemente no mercado
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nanotecnologia. Graças à introdução de nanopartículas nos têxteis, hoje é possível produzir roupas que não mancham, não amassam, contenham proteção contra raios ultravioletas, cosméticos, substâncias medicinais e até células solares.
Visão de consumo
Gabriela Pascolato, diretora comercial da Santaconstancia, empresa conhecida pelos tecidos de moda, justifica a aposta no segmento esportivo. “Hoje, o consumidor procura roupas que, além do visual fashion, confiram também conforto e bem-estar”. Ela diz que seu próprio estilo de vida como executiva motivou o investimento na nova coleção de tecidos tecnológicos: “Há ocasiões em que eu saio da academia e vou direto para uma reunião de negócios. A roupa que uso precisa ter secagem rápida, ser muito leve e não amarrotar, ou seja, adequada às minhas necessidades.
E é isso que os consumidores buscam hoje”, completa. O engenheiro Alexandre Campos, dono da marca Hard Eight, confecção voltada para o segmento fitness, diz que os consumidores de fato estão mais informados, conhecem os produtos, porém, nem sempre estão dispostos a pagar mais por isso. “Há uma procura por marcas alternativas que oferecem os mesmos benefícios das grifes com preços mais acessíveis. Considero importante o trabalho das tecelagens e malharias junto às confecções para nos orientar sobre os novos materiais”.
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Cores e desenhos ousados na coleção da
Body for Sure
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Consumidor informado e exigente
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Raio X da feira
Expositores: 70 empresas
Visitantes: 23 mil pessoas
Negócios gerados: R$ 12 milhões
Fonte: Pomotrade
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